TOCAR TECLADO FACIL RÁPIDO

“Eu não sou cachorro, não para ser tão humilhado”
(WALDIK SORIANO)


“Num domingo de sol excepcional para o Dia de Finados, milhares de
pessoas trocaram a praia pelo cemitério. O de São Francisco Xavier, no
Caju, foi o mais concorrido. E, como nos anos anteriores, o túmulo do
cantor Paulo Sérgio foi o mais procurado.”(1)
Desde 1980 a imprensa vem registrando este ritual. No meio da multidão
que a cada 2 de novembro acorre ao cemitério do Caju, no Rio de Janeiro,
surge um grande número de homens e mulheres do povo que se reúne para
reverenciar a memória de Paulo Sérgio, representante de uma geração de
cantores/compositores populares – chamados de “bregas” ou “cafonas” –
que durante uma década se destacou no cenário artístico nacional.
Entre 1968 e 1978 estes artistas sempre apareciam nas listas das mais altas
vendagens do mercado fonográfico e seus discos batiam recordes de
execução em rádios. E assim, ao longo daquele período, grande parte da
população brasileira, na qual me incluo, cresceu, amou, sofreu e viveu ao
som de determinadas vozes e canções. Vozes como as de Odair José,
Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Waldik Soriano, Cláudia Barroso, Benito di
Paula e Dom & Ravel; e canções como “Eu não sou cachorro, não”, “Pare
de tomar a pílula”, “Vou tirar você desse lugar”, “Cadeira de rodas” e
tantas outras, que hoje fazem parte da memória de milhões de ouvintes de
rádios, de discos e de serviços de alto-falantes.
Sucesso de norte a sul do país, patrimônio afetivo de grandes contingentes
das camadas populares, esta vertente da nossa canção romântica tem sido
sistematicamente esquecida pela historiografia da música popular
brasileira. Nas publicações referentes à década de 70, de maneira geral são
focalizados nomes como os de Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil,
Milton Nascimento, e discos como “Sinal fechado”, “Falso Brilhante”
“Clube da Esquina”, todos, sem dúvida, representativos, mas que na
época eram consumidos por um segmento mais restrito de público,
localizado na classe média. O que a maioria da população brasileira ouvia
eram outras vozes e outros discos.
Não dá mais para dissimular ou esconder. A produção musical “brega” ou
“cafona” é um fato da nossa realidade cultural e, assim como a da bossa
nova ou a do tropicalismo, precisa ser pesquisada e analisada.
Ressalvo que este não é um livro de crítica musical, portanto, o autor não
emite qualquer juízo de valor estético – nem para as canções de Waldik
Soriano, nem para as de Caetano Veloso – ambas tratadas como
documentos da história brasileira. Mas através da análise da construção
social da memória é possível identificar de que maneira ficou cristalizada
em nosso país uma memória da história musical que privilegia a obra de
um grupo de cantores/compositores preferido das elites, em detrimento da
obra de artistas mais populares.


É possível que você não conheça ou tenha dificuldade de identificar alguns
dos nomes de cantores e canções que serão aqui apresentados, mas isto
pode ser apenas mais um reflexo do processo de silenciamento que atinge
esta geração de artistas “cafonas”.
Quando relacionam produção musical e regime militar, os críticos,
pesquisadores e historiadores da nossa música são pródigos em ressaltar a
ação de combate e protesto empreendida por diversos compositores da
MPB, que se valiam de metáforas, imagens truncadas e herméticas, com o
objetivo de driblar a censura e manifestar o seu inconformismo com o
quadro político-social vigente. O que estes analistas nunca ressaltam, ou
simplesmente ignoram, é o papel de resistência desempenhado naquele
mesmo período por artistas populares como Paulo Sérgio, Odair José,
Benito di Pauta e, não se surpreenda, a dupla Dom & Ravel.
Três aspectos chamam a atenção no universo deste grupo de
cantores/compositores. Em primeiro lugar, a mensagem de suas canções:
grande parte delas traz a denúncia do autoritarismo e da segregação social
existentes no cotidiano brasileiro. O segundo aspecto é a relação entre esta
produção musical e o momento histórico: a maioria de seus autores e
intérpretes alcança o auge do sucesso entre 1968 e 1978, período de
vigência do Ato Institucional n° 5, sendo também proibidos e intimados
pelos agentes da repressão do regime. E o terceiro aspecto, a origem social
do público e dos artistas: ambos oriundos dos baixos estratos da sociedade
e boa parte deles tendo vivenciado uma das grandes mazelas do nosso país,
o trabalho infantil.
Agnaldo Timóteo, por exemplo, trabalhou de engraxate, vendedor de
pastéis, lavador de automóveis e, a partir dos 9 anos, auxiliar de torneiro
mecânico, ocupações que o impediram de prosseguir nos estudos. “Eu sou
um homem de terceiro ano primário, não consegui sequer o diploma
do curso primário.”(2) O cantor Waldik Soriano também ficou fora da
escola, pois desde pequeno, de enxada em punho, foi batalhar na lavoura
com seus irmãos, exercendo mais tarde os ofícios de garimpeiro, faxineiro,
engraxate, servente de pedreiro e camelô. “Venho de uma vida muito
sofrida e sofro duas vezes quando recordo o passado.”(3)
O cantor e compositor Nelson Ned é outro brasileiro que trabalhou no
período da infância, a partir da idade de 12 anos, numa fábrica de
chocolates. “Eu sou de uma família de uma origem muito boa, mas com
muita pobreza. E eu não tinha dinheiro sequer para andar de ônibus,
então eu passava debaixo da roleta, o que não era difícil pra mim. Mas
eu só passava debaixo da roleta porque não tinha dinheiro pra pagar a
passagem.”(4
Os irmãos Dom (Eustáquio Gomes de Faria) e Ravel (Eduardo Gomes de
Faria) ainda pequenos deixaram a cidade de Itaiçaba, interior do Ceará, e
seguiram com a família a mesma rota de tantos outros nordestinos: o sul do
país. Dom foi ser office-boy e Ravel aos 14 anos vendia picolés e
engraxava sapatos nas ruas de São Paulo.
Trabalho que também consumiu a infância do cantor e compositor Wando.
“Eu sobrevivia vendendo jornal e engraxando sapatos, e aos 13 anos
comecei a trabalhar de feirante.”


Para o compositor carioca Nenéo, que quando garoto também se virou
como engraxate, a vida foi ainda mais difícil, pois ele e seus irmãos se
alimentavam com sobras de comida de uma fábrica de cigarros. ”A minha
tia trabalhava na cozinha do restaurante de lá e todo dia ela trazia pra
gente um panelão de tutu misturado com macarrão. E aquilo matava a
nossa fome.”
Por fim, o cantor Paulo Sérgio, que se iniciou muito cedo como aprendiz de
alfaiate e aos 12 anos já era praticamente um profissional do ramo, ofício
que exerceu até às vésperas da gravação do primeiro disco.
Em 13 anos de carreira artística ele lançou 13 LP’s, em sua maioria com
canções românticas, mas nas quais a temática social não estava ausente,
como ilustra um trecho da autobiográfica “Alfaiate”, composição de 1971:
ALFAIATE
CORTANDO LEMBRANÇAS
PREGANDO ESPERANÇAS
EU VENHO DA FOME
SEM TEMPO E SEM NOME
VESTINDO DE SONHOS
UM MUNDO DE HORRORES…(5)
Entre 1968 e 1978, esta geração de artistas procurou expressar em suas
composições as questões que, como pessoas do povo, tiveram que
enfrentar. Produziram uma obra musical que, embora considerada tosca,
vulgar, ingênua e atrasada, constitui-se em um corpo documental de grande
importância, já que se refere a segmentos da população brasileira
historicamente relegados ao silêncio. Em muitas das letras do repertório
“cafona” se revelam pungentes retratos da nossa injusta realidade social.
E neste sentido esta produção não se caracterizou pela atitude meramente
conformista e nem pela ausência de crítica ou contestação aos valores
sociais vigentes. Apesar desta música expressar em grande medida o
universo da ideologia dominante, encontram-se nela aspectos que a fazem
contestadora desta mesma ideologia. A visão histórica de uma ação
unilateral do poder sobre os dominados é algo que atualmente está
superado, o que se observa, por exemplo, nas obras do inglês Edward P
Thompson e da francesa Michelle Perrot, historiadores que procuraram
revelar as formas de resistência engendradas pelos chamados setores
subalternos.(6)


Seguindo esta mesma perspectiva, Marilena Chauí observa que as ciências
sociais e a filosofia tendem a encarar a cultura popular pelo prisma das
dicotomias, sem levar em consideração o caráter necessariamente ambíguo
e contraditório dos objetos sociais. Assim, diz ela, no Brasil o popular é
encarado “ora como ignorância, ora como saber autêntico, ora como
atraso, ora como fonte de emancipação. Talvez seja mais interessante
considerá-lo ambíguo, tecido de ignorância e saber, de atraso e de
desejo de emancipação, capaz de conformismo ao resistir, capaz de
resistência ao se conformar.”(7)
É o que se procurará observar em cada uma das faixas de discos analisados,
já que ali estão registrados sonhos, angústias, tragédias, protestos, dores,
amores, além da visão de mundo de amplos setores das camadas populares.
E isso produzido em um período da nossa história em que os direitos
constitucionais estavam suspensos e os canais de expressão da insatisfação
popular, bloqueados. Entretanto, por entre as brechas do sistema,
representantes de setores populacionais mantidos à margem do centro de
decisão política conseguiram falar e ser ouvidos.
O período de maior repressão política do regime militar coincide com o da
fase de consolidação de uma cultura de massa e a conseqüente expansão da
indústria fonográfica. Entre 1970 e 1976, a indústria do disco cresceu em
faturamento, no Brasil, 1.375%. Na mesma época, a venda de LPs e
compactos passou de 25 milhões de unidades por ano para 66 milhões de
unidades.
O consumo de toca-discos, entre 1967 e 1980, aumentou em 813%.(8)
Favorecido pela conjuntura econômica em transformação, o Brasil
alcançou o quinto lugar no mercado mundial de discos. Nunca tantos
brasileiros tinham gravado e ouvido tantas canções. A música popular
firmava assim como o grande canal de expressão de uma ampla camada da
população brasileira que, neste sentido, não ficou calada, se pronunciou
através de sambas, boleros e, principalmente, baladas.
Como intérpretes de bolero se destacam naquele período os cantores
Waldik Soriano, Nelson Ned, Lindomar Castilho e Claudia Barroso, que
seguem a tradição da influência hispânica que se faz presente no Brasil
desde a década de 40. Um outro grupo vai trilhar a linha do samba, ou
“sambão-jóia”, como pejorativamente eram tachados na época: Benito di
Paula, Luiz Ayrão e Wando (que até 1978 ainda não havia aderido de vez
ao estilo de baladas românticas).
E um terceiro grupo, que engloba a maior parte destes cantores populares,
vai se expressar através do ritmo da balada, e tem entre os seus principais
representantes Paulo Sérgio, Odair José, Evaldo Braga, Agnaldo Timóteo e
outros, que são continuadores de um estilo romântico consagrado por
Roberto Carlos e a turma da Jovem Guarda nos anos 60. Portanto, esta
geração de artistas “cafonas” se expressou basicamente através de três
gêneros musicais já bastante testados e consolidados no gosto do público
ouvinte de rádio e de discos.
A palavra “brega”, usada para definir esta vertente da canção popular, só
começou a ser utilizada no início dos anos 80.(9) Ao longo da década de 70

  • período que compreende o universo desta pesquisa – , a expressão
    utilizada é ainda “cafona”, palavra de origem italiana, “cafóne”, que
    significa indivíduo humilde, vilão, tolo.(10)
    Divulgada no Brasil pelo jornalista e compositor Carlos Imperial, a
    expressão ”cafona” subsiste hoje como sinônimo de “brega”, que, segundo
    a Enciclopédia da Música Brasileira, é um termo utilizado para designar
    “coisa barata, descuidada e malfeita” e a “música mais banal, óbvia,
    direta, sentimental e rotineira possível, que não foge ao uso sem
    criatividade de clichês musicais ou literários”.(11)
    Ressalto que sempre que eu fizer referência ao repertório “cafona” – a
    palavra aparecerá entre aspas porque contém um juízo de valor
    impregnado de preconceitos com os quais não compartilho – , estarei
    me referindo àquela vertente da música popular brasileira consumida
    pelo público de baixa renda, pouca escolaridade e habitante dos
    cortiços urbanos, dos barracos de morro e das casas simples dos
    subúrbios de capitais e cidades do interior. Como definiu o jornalista
    Dirceu Soares, “subúrbio é um lugar que fica entre a cidade e o campo.
    Ali mora um tipo de gente que ainda não se sofisticou, mas que
    também já não é mais matuta. E é nesta mistura de culturas que vive a
    maior parte da população brasileira”.(12)
    Ao refletir, nos anos 70, sobre o abismo que separava a grande massa de
    brasileiros empobrecidos da minoria extremamente rica – distorção
    resultante do modelo concentrados de renda – , o economista Edmar Bacha
    criou o termo “Belíndia”, uma metáfora para explicar a existência de dois
    “Brasis”: um, composto pelas classes média e alta, morando no grande
    centro urbano-industrial e com um padrão de vida de primeiro mundo,
    semelhante ao da população da Bélgica; outro, composto pela classe média
    baixa e assalariada, a imensa maioria da população, vivendo em precárias
    condições, sem escola, saúde e informação e com um padrão de consumo
    semelhante ao da população da Índia.
    Transportando esta metáfora para o campo específico da música popular, é
    possível dizer que artistas como Chico Buarque e Milton Nascimento
    tinham o seu público entre os habitantes da “Bélgica”, enquanto que os
    cantores “cafonas” eram ouvidos e admirados pela imensa maioria da
    população da “Índia”.
    Naquela época, como um típico habitante desta parte mais pobre do Brasil,
    cresci ouvindo cantores como Waldik Soriano, Odair José e Nelson Ned. E,
    como a maioria destes artistas, também trabalhei de engraxate na infância.
    Mas ao chegar à universidade – rompendo uma barreira que a sociedade
    impõe às pessoas não originárias da classe média – , resolvi aprofundar
    algumas questões que me acompanham desde que me interessei pelo estudo
    da história do Brasil: por que aqueles cantores que eu ouvia no rádio no
    período da minha infância não apareciam nos livros e ensaios que
    tematizam a música popular? Por que a exclusão de uma vertente musical
    que serve de referência para milhões de brasileiros? E mais: até que ponto
    este descaso com a história da canção popular “cafona” reflete o
    autoritarismo de áreas insuspeitas da nossa sociedade? E afinal, que
    memória histórica da música popular brasileira tem sido construída em
    nosso país?
    A partir destas indagações, resolvi iniciar a pesquisa e levantar o véu que
    cobre a produção musical “cafona” dos anos do AI-5.
    Este livro é uma versão revista e ampliada da minha dissertação de
    mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e
    Documento da Universidade do Rio de Janeiro – UNI-Rio(13). Visando ao
    bom desenvolvimento do trabalho, percorri três principais fontes primárias:
    a produção discográfica do período 1968/1978 (sambas, baladas e boleros,
    além do repertório da MPB); jornais e revistas da época; e, principalmente,
    depoimentos inéditos e exclusivos de alguns dos principais protagonistas da
    música popular “cafona”.
    Entre fevereiro de 1997 e maio de 2002 entrevistei produtores, diretores de
    gravadora e vários cantores/compositores, alguns no Rio, outros em São
    Paulo. Pela primeira vez artistas como Waldik Soriano, Odair José e
    Nelson Ned falaram sobre o significado histórico de suas carreiras.
    Em determinados momentos da entrevista alguns dos cantores diziam: “Eu
    nunca tinha falado sobre isso antes.” Assim, este recurso nos permitiu um
    acesso privilegiado ao tema, acentuando ambivalências, motivações e
    versões que dificilmente encontraríamos em outras fontes. E, ao dar voz a
    esta geração de artistas, creio contribuir para amenizar o esquecimento
    nesta luta desigual pela memória. (14)
    *
    ( Paulo César de Araújo, autor do livro “Eu Não Sou Cachorro,
    Não”))
    *Como já foi destacado, a bibliografia sobre música popular brasileira não
    apresenta estudos focalizando a obra do repertório “cafona”. A maior parte
    dos títulos até agora publicados se prende aos sambistas dos anos 30 (Noel
    Rosa, Wilson Batista, Ismael Silva); à bossa nova (João Gilberto, Tom
    Jobim, Vinicius de Moraes); e à geração surgida durante os festivais de
    música popular nos anos 60 (Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil,
    Milton Nascimento).
    Ou seja, o que tem sido pesquisado e analisado é basicamente a produção
    dos cantores/compositores identificados à MPB. O que de alguma forma
    comprova o que foi observado pelo filósofo francês Edgar Morin ao dizer
    que geralmente “aquilo que se despreza não merece ser estudado ou
    pensado”(15).
    A obra do crítico e historiador José Ramos Tinhorão é considerada uma
    referência quando se fala em história da música popular no Brasil.
    Ninguém escreveu mais do que ele sobre o tema. Do primeiro livro,
    “Música popular: um tema em debate”, publicado em 1966, ao mais
    recente, “Música popular: o ensaio é no jornal”, lançado no início do ano
    2000, são mais de 10 livros em que o autor apresenta um exaustivo trabalho
    de pesquisa e análise crítica sobre diversos gêneros e compositores: da
    modinha à lambada; de Domingos Caldas Barbosa a Caetano Veloso.
    Mas o sempre muito polêmico Tinhorão também nada diz sobre a música
    produzida por compositores como Waldik Soriano ou Nelson Ned.
    Esta mesma exclusão se verifica no trabalho do pesquisador Ary
    Vasconcelos e nos textos daqueles que chamarei aqui de divulgadores de
    histórias da nossa música popular: Ruy Castro, Sérgio Cabral, Ricardo
    Cravo Albin, Zuza Homem de Melo, Hermínio Bello de Carvalho e outros,
    que se dedicam basicamente a registrar a memória de gêneros e intérpretes
    identificados com as chamadas raízes do samba e do choro ou de músicos
    ligados à bossa nova. A maior parte daquilo que está associado à chamada
    cultura de massa é relegada ao esquecimento.

  • A coleção História da Música Popular Brasileira, conjunto de discos e
    fascículos publicado pela Abril Cultural ao longo das décadas de 70 e 80, é
    outro trabalho que contribuiu para sedimentar uma determinada memória
    da história musical do país.
    Com textos assinados por críticos e jornalistas como João Máximo, Tárik
    de Souza e Luiz Carlos Maciel, ao longo das suas três edições são
    focalizadas as trajetórias de 113 nomes da nossa música popular: dos mais
    tradicionais e famosos como Noel Rosa e Paulinho da Viola aos mais
    herméticos e vanguardistas como Walter Franco e Walter Smetak. E, no
    entanto, a coleção que pretende levar o leitor/ouvinte a “conhecer melhor o
    Brasil, por meio dos sons e cantos da sua gente”(16), não diz uma palavra
    sequer sobre a produção musical de artistas populares como Odair José ou
    Benito di Paula.
    Inaugurado em 1965, o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro
    apresenta como um de seus objetivos preservar a memória da música
    popular brasileira. A gravação de depoimentos para a posteridade – uma das
    marcas pioneiras e definidoras do MIS – resultou em um acervo com 839
    depoimentos sonoros, organizados em 1.700 fitas, que totalizam cerca de 2
    mil horas de gravações.(17). Mas em todo este material gravado e
    catalogado também não existe nada referente à geração dos
    cantores/compositores acima citados.
    Isto tudo nos remete à reflexão acerca dos silêncios da História. Jacques Le
    Goff, historiador francês, afirma que é preciso interrogar-se sobre os
    esquecimentos, os hiatos, os espaços em branco. “Devemos fazer o
    inventário dos arquivos do silêncio, e fazer a história a partir dos
    documentos e das ausências de documentos”(18). E esta análise é de
    fundamental importância porque o espaço da memória constitui
    permanente campo de batalha, e o ato de esquecer pode ser resultado de
    manipulação exercida por grupos dominantes sobre dominados, ou de
    vencedores frente a vencidos.
    Em contraponto a uma longa tradição do estudo da História, cujo enfoque
    incidia, fundamentalmente, na valorização dos falos relativos às classes
    dominantes, tem se acentuado nos últimos anos uma tendência em dar lugar
    às manifestações das pessoas comuns, o que representa uma
    democratização do objeto histórico.
    Este trabalho se alinha nesta perspectiva, já que, ao pesquisar a obra
    musical de uma geração de cantores/compositores considerados “cafonas”,
    visa recuperar a memória de uma facção da cultura popular deixada ao
    largo da historiografia, trazendo à tona sua luta, seus embates, suas formas
    de expressão e resistência.

  • E não se trata aqui de um livro apenas sobre música, mas sim da análise de
    fatos e documentos que ajudem a elucidar os rumos da música popular e da
    própria sociedade brasileira em um período marcante de sua história.
    Afinal, as canções e os depoimentos pesquisados foram produzidos por
    uma geração de artistas populares afinados com seu tempo, com sua cultura
    e que tiveram importância (ou que talvez ainda tenham) para a vida de
    milhões de pessoas.
    “Roberto Carlos acabou. Não existe mais Roberto Carlos”.
    (Chacrinha)

  • No conturbado ano de 1968, era mesmo muito difícil não participar de
    alguma polêmica. Como se costuma dizer, era o espírito da época. E os
    assuntos debatidos eram os mais diversos. Política. Religião. Música.
    Cinema. Cibernética. O jornalista e escritor Zuenir Ventura, um dos
    memorialistas daqueles tempos, enfatiza que em 1968 a polêmica era
    duradoura e estava em toda parte: “Discutia-se nas universidades, nas
    assembléias, nas passeatas, nos bares, nas praias: a altura das saias, o
    caráter socialista da revolução brasileira, o tamanho dos cabelos, os efeitos
    da pílula anticoncepcional, as teorias inovadoras de Marcuse, as idéias de
    Lukács, o revisionismo de Althusser.”(19)
    No universo da música popular romântica, a polêmica e o debate também
    estavam na ordem do dia. Mas não exatamente em relação aos temas já
    citados, que em sua maioria eram privilégio das elites intelectuais do país.
    Entre grande parte de artistas e público de origem popular, ao longo do
    segundo semestre de 1968, discutia-se e torcia-se por Roberto Carlos ou
    Paulo Sérgio, o jovem alfaiate que se tornaria um ícone desta geração de
    cantores/compositores “cafonas”.
    Foi em 1968 que Paulo Sérgio Macedo despontou com grande destaque em
    todas as paradas de sucesso do Brasil. Natural de Alegre, interior do
    Espírito Santo, solteiro, 24 anos, Paulo Sérgio surgia com o mesmo sorriso
    tímido, os mesmos olhos tristes, o mesmo estilo musical e o mesmo timbre
    vocal do ídolo Roberto Carlos – o que levava a imprensa na época a afirmar
    que “ouvir a voz de um ou de outro, praticamente não faz diferença. Paulo
    Sérgio é uma espécie de outro Roberto Carlos”.(20)
    Gravado em maio de 1968, o primeiro LP de Paulo Sérgio rapidamente
    alcançou a marca de 300 mil cópias vendidas – uma tiragem espetacular
    para a época – e várias faixas do disco entraram nas paradas de sucesso
    nacional: “No dia em que parti”, “Sorri meu bem” , “Se você voltar” e,
    principalmente, a balada “Última canção”, que era tocada a todo instante
    nas emissoras de rádio de norte a sul do Brasil: “Esta é a última canção /
    que eu faço pra você / já cansei de viver iludido / só pensando em
    você…”(22)
    Paulo Sérgio não foi o primeiro nem seria o último cantor a começar a
    carreira imitando Roberto Carlos. Desde pelo menos 1965, quando o
    estrondoso sucesso de ”Quero que vá tudo para o inferno” transformou
    Roberto Carlos em um ídolo de massa, que imitadores de sua voz e estilo
    vinham sendo lançados e retirados do mercado. E a canção ”O sósia”,
    composição gravada pelo cantor em 1967 – portanto, antes da consagração
    de Paulo Sérgio – , é um retrato disso.
    Ali, Roberto Carlos canta que encontrou um cara que tinha a sua cara “e
    até seu nome era igual ao meu / hum, era demais / eu sei, não era eu”,
    numa referência aos vários imitadores que surgiam na época da Jovem
    Guarda. O que difere o caso Paulo Sérgio é que ele foi o primeiro artista
    com voz e estilo semelhantes aos de Roberto Carlos a alcançar grande
    sucesso nacional. E isto num momento em que a carreira do “rei” passava
    por uma fase de reformulação e a sua imagem apresentava os primeiros
    sinais de desgaste.
    Em 1968 o programa Jovem Guarda, que Roberto comandou durante mais
    de dois anos, foi ao ar pela última vez porque a fórmula já estava muito
    gasta e o cantor pretendia atingir outras faixas de público. Mas o seu novo
    musical na TV Record, “Roberto Carlos à noite”, não conseguiu os
    índices de audiência esperados e também foi retirado do ar. A tentativa
    seguinte, o programa ”Todos os jovens do mundo”, em que ele aparecia
    falando de bombas, de guerra e da perplexidade do mundo moderno, foi
    considerado maçante e também não prosseguiu.
    Especulava-se na imprensa que o casamento de Roberto Carlos naquele ano
    de 1968 havia lhe retirado o apoio de boa parte do público feminino e que a
    sua carreira estaria entrando em curva descendente.
    E mais do que nunca evocava-se um exemplo do passado: Orlando Silva, o
    ex-trocador de bonde que se consagrara como o “cantor das multidões”,
    mas que em um curto espaço de tempo perdera a voz, o prestígio e a
    popularidade. Apostando em fato semelhante, em agosto de 1968 a revista
    O Cruzeiro produziu uma grande reportagem cujo título era “Roberto
    Carlos: como morre um ídolo”.(23){/b]
    Naquele segundo semestre a temporada teatral apresentava como
    destaque a peça ”Roda viva”, texto de Chico Buarque com polêmica
    montagem de José Celso Martinez Corrêa. Era a história do cantor
    Ben Silver, um ídolo da juventude que, depois de triturado pela
    máquina do consumo, oferecia o seu fígado à devoração dos fãs.
    Corriam versões de que o personagem fora inspirado na trajetória de
    Roberto Carlos – fato que Chico Buarque negava. Mas, com os reveses
    enfrentados pelo “rei” naquele momento, esta analogia era tentadora e
    um antigo companheiro de Roberto Carlos, que preferiu não se
    identificar, chegou a dizer na época: “Não sei se Roberto assistiu à
    Roda viva. Se não assistiu deveria ir ver a peça de Chico. É a sua
    própria vida que está ali. Roberto Carlos foi o instrumento de uma
    engrenagem: trituraram-no, esmagaram-no, tiraram-lhe o sumo e
    agora estão esperando uma oportunidade para jogar fora o
    bagaço.”(24)
    Por tudo isso, o surgimento de um novo astro na música jovem romântica
    causou repercussão, e a pergunta “Paulo Sérgio derrubará Roberto Carlos?”
    era ouvida em programas de rádio, televisão, e repetida em matérias de
    jornais e revistas.
    Para uns, Paulo Sérgio não passava de um clone do cantor do
    “Calhambeque” e não sobreviveria ao sucesso do primeiro disco; para
    outros, o mito Roberto Carlos havia chegado ao fim e o novo rei da
    juventude seria agora Paulo Sérgio. O mais popular apresentador da
    televisão brasileira, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, foi categórico:
    “Roberto Carlos acabou. Não existe mais Roberto Carlos.”
    E Chacrinha defendia esta opinião com o argumento de que “a medicina
    tem escola, a arquitetura tem escola, tudo tem escola. Paulo Sérgio
    seguiu a escola de Roberto Carlos, e burro será ele se mudar. Tem que
    ir assim até o fim. Ele já superou Roberto Carlos”.(25)
    A polêmica estava estabelecida e outros artistas da música romântica se
    envolviam nela. Partindo em defesa de Roberto Carlos, o cantor Agnaldo
    Timóteo, bem ao seu estilo, rebateu de maneira contundente as declarações
    do Velho Guerreiro: “O Chacrinha provou mais uma vez que é um
    oportunista. Ele anda dizendo que o Paulo Sérgio é um ídolo, que
    derrubou Roberto Carlos, e paga apenas 100 mil cruzeiros velhos para
    o Paulo Sérgio cantar no seu programa. A bronca do Chacrinha é que
    o Roberto Carlos não canta no programa dele. O dia em que o Paulo
    Sérgio disser: ‘Quero 500 mil para cantar em seus programas’, então
    Paulo Sérgio não valerá mais nada.”(26)
    Wanderley Cardoso, na época um dos mais populares cantores do Brasil,
    também saiu em defesa do colega da jovem guarda, ao afirmar que “ele
    (Paulo Sérgio) pode ser um bom moço, mas está começando muito mal,
    pois sua orientação é péssima. Roberto Carlos é o maior ídolo que já vi,
    e não será um Paulo Sérgio que irá derrubá-lo”(27)
    O debate não ficou restrito aos artistas, estendeu-se também às ruas, aos
    bares, aos auditórios – e as fãs dos dois cantores travaram uma batalha só
    comparável às de Marlene e Emilinha nos áureos tempos da Rádio
    Nacional.
    O cantor Paulo Sérgio, que um ano antes de gravar seu primeiro LP era
    apenas um jovem alfaiate que gostava de cantar e ouvir rádio, parecia até
    um pouco assustado por estar ali agora ocupando o centro de uma polêmica
    com o rei da juventude e maior vendedor de discos do Brasil: “Eu operei a
    garganta para ver se minha voz ficava diferente da voz do Roberto
    Carlos e não adiantou. Estou desesperado, já não agüento mais ouvir
    todo mundo dizer que eu imito o Brasa.”(28)
    Ele podia estar mesmo preocupado, mas, convenhamos, esta polêmica com
    o líder da jovem guarda era muito mais do que Paulo Sérgio poderia sonhar
    para seu início de carreira – principalmente porque ele se lançou por uma
    pequena gravadora nacional, a Caravelle, um selo até então inexpressivo,
    enquanto Roberto Carlos e grande parte dos outros artistas eram
    contratados das multinacionais CBS, RCA, Odeon e Philips.
    Como reflexo do enorme sucesso alcançado por Paulo Sérgio, o LP de
    Roberto Carlos lançado no fim de 1968 trazia como título “O inimitável”,
    adjetivo que o cantor não queria na capa de seu disco, mas em 1968 ele
    ainda não dava todas as cartas na CBS, e a gravadora decidiu explorar
    comercialmente a polêmica. E Roberto Carlos não queria o seu LP
    envolvido no episódio porque ninguém melhor do que ele próprio para
    compreender a trajetória de Paulo Sérgio naquele momento.
    Afinal, nove anos antes, em 1959, era ele, Roberto Carlos, que iniciava a
    carreira de cantor, também por uma pequena gravadora, a Polydor, e
    também seguindo os passos do seu ídolo João Gilberto, da poderosa Odeon.
    A diferença é que, ao contrário do primeiro LP de Paulo Sérgio, o disco de
    Roberto Carlos não obteve nenhuma repercussão e ele teve que redefinir o
    seu estilo. Seja como for, o fato é que o título “O inimitável” revela que o
    sucesso alcançado pelo ex-alfaiate incomodou e causou preocupação nas
    hostes do “rei”.
    Aliás, vozes maledicentes diziam que tudo isto estava ocorrendo porque,
    depois de sua bem-sucedida participação no Festival de San Remo, no
    início daquele ano, Roberto Carlos voltara italianizado, mais sisudo e
    inacessível, dando pouca importância aos antigos fãs. “Não é verdade” –
    rebatia o cantor – “sou o mesmo Roberto de antes. E estou mais empenhado
    em minha carreira do que nunca. Vou para a frente sempre.”(29)
    De fato, como o tempo viria a demonstrar, Roberto Carlos não foi
    derrubado por Paulo Sérgio. Note-se que após o lançamento de “O
    inimitável”, disco mais romântico que os anteriores e com faixas como ”Se
    você pensa”, “As canções que você fez pra mim” e ”Madrasta”, o cantor
    passou a conquistar um segmento de público mais adulto e diversificado,
    obtendo os primeiros reconhecimentos da crítica e reverência de diversos
    artistas da MPB.
    Mas Paulo Sérgio também não desapareceu após o sucesso do primeiro LP,
    em 1968. Embora tenha carregado até o último dia de vida a pecha de
    “imitador do rei”, ao longo de sua carreira ele foi colecionando uma série
    de sucessos nacionais, mantendo a audiência de um público cada vez mais
    fiel e tornando-se precursor de um estilo de balada romântica – mais tarde
    chamada de “brega” – que influenciou toda uma geração de
    cantores/compositores populares surgidos a partir de 1968: Odair José,
    Fernando Mendes, Luiz Geraldo, Jean Marcel, Gilberto Reis, Fredson e
    outros.
    Embora se credite diretamente ao trabalho de Roberto Carlos a existência
    destes artistas “cafonas”, ressalto aqui a mediação e a forte influência de
    Paulo Sérgio. Foi ele quem retrabalhou a fórmula da balada romântica e
    abriu as portas do mercado discográfico para uma nova geração de cantores
    populares, que começava a carreira num momento em que o ciclo da jovem
    guarda chegava ao fim. Não sem razão, ao comentar o disco de lançamento
    do novo cantor Gilberto Reis, em 1973, a revista Veja observava que
    “Roberto Carlos foi imitado por Paulo Sérgio. Agora, Paulo Sérgio é
    imitado por Gilberto Reis”.(30)
    E possível dizer que esta geração de artistas despontada a partir de 1968 é a
    segunda na linha das que são rotuladas de “cafona” ou “brega”. A primeira
    geração é aquela que serviu de contraponto à bossa nova e obteve grande
    sucesso popular entre o fim dos anos 50 e início dos anos 60: Anísio Silva,
    Orlando Dias, Silvinho, Adilson Ramos e alguns outros nomes que na
    época se notabilizaram basicamente como intérpretes de boleros.
    A segunda geração – a de Paulo Sérgio – inclui um número maior e mais
    diversificado de cantores/compositores, consequência da expansão da
    própria indústria fonográfica no Brasil, interessada em dividir em fatias o
    mercado consumidor de discos.

  • Uma terceira geração de “cafonas””que não é a prioridade deste livro – foi
    aquela que despontou por volta de 1977 e manteve-se regularmente nas
    paradas de sucesso nacional até o início dos anos 80: Sidney Magal, Agepê,
    Peninha, Amado Batista, Giliard, Carlos Alexandre, Jane & Herondy e
    outros que, mais tarde, passaram a ser chamados de “bregas”.
    E aqui se faz necessário uma melhor diferenciação entre o repertório
    musical “cafona” e a chamada MPB, que, mais do que um gênero de
    música, transformou-se, a partir do fim dos anos 60, numa verdadeira
    instituição, dotada de reconhecimento cultural e de lugar social bem
    determinado.(31)
    Apesar do aparente significado, a sigla MPB não representa toda e qualquer
    música popular produzida no Brasil. Ainda hoje, e de uma maneira muito
    mais intensa no período do regime militar, ela é a expressão de uma
    vertente da nossa música popular urbana produzida e consumida
    majoritariamente por uma faixa social de elite, segmento que a indústria
    cultural classifica como público A ou B.
    Difundida a partir de 1965, a sigla MPB foi utilizada inicialmente apenas
    como referência à “moderna música popular brasileira”, de origem
    universitária, que surgia da influência direta da bossa nova e que, naquele
    momento, disputava espaço com uma outra música popular – aquela
    produzida por Roberto Carlos e a turma da jovem guarda – que partia de
    influências do rock’n’roll inglês e norte-americano.

  • E esta disputa levou na época alguns dos representantes da MPB – Elis
    Regina, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Edu Lobo – a comandar uma
    passeata contra as guitarras elétricas no centro de São Paulo. Ou seja: num
    primeiro momento, a sigla MPB representava uma espécie de bandeira de
    luta nacionalista contra um outro tipo de música que era efetivamente
    popular e produzida em nosso país, porém, considerada “alienígena”, “nãobrasileira”.
    Entretanto, a partir de Setembro de 1967, com a incorporação de guitarras
    elétricas às composições de Caetano Veloso e de Gilberto Gil via
    tropicalismo e com a assimilação de influências do rock, do blues, do soul e
    do próprio trabalho de Roberto Carlos por outros intérpretes da MPB (Gal
    Costa, Elis Regina, Wilson Simonal), esta oposição música “brasileira”
    versus música “alienígena” deixava de ter sentido.
    Mas a sigla MPB continuou, agora fazendo frente a outra produção musical
    popular: aquela que, a partir de 1968, através de cantores românticos como
    Paulo Sérgio, era tachada de “cafona” ou de “música de empregadas”, ou
    seja, tudo aquilo que o público de classe média universitário rejeitava em
    termos de forma e conteúdo.
    Na perspectiva desse público, artistas como Chico Buarque e Gonzaguinha
    seriam os legítimos criadores da “boa música popular” – o termo “popular”
    sendo assim apropriado pelas elites intelectuais, restando para aqueles
    cantores românticos de maior popularidade o adjetivo “popularesco”.
    Como observa Marilena Chauí, se, no início do século XX, “os
    compositores mais conhecidos eram lá do morro, no final do século, grande
    parte da música popular é composta e ouvida por universitários.(…) Por
    outro lado, as composições mais admiradas pela população ‘popular’ são
    aquelas que costumam receber a qualificação pejorativa de kitsch”.(32)
    Em consequência desta segmentação do mercado discográfico – que do
    ponto de vista do público serve como diferencial de gosto e status social – ,
    ao longo do período de 1968/78, pode-se notar a existência de duas
    principais vertentes na música popular urbana produzida no Brasil. De um
    lado, aquela de artistas identificados à MPB. De outro, a vertente rotulada
    de “cafona” ou “popularesca” (Paulo Sérgio, Odair José, Waldik Soriano,
    Agnaldo Timóteo, Nelson Ned), de artistas e público oriundos das camadas
    mais pobres da sociedade.
    Com transito entre uma vertente e outra havia casos como os de Roberto e
    Erasmo Carlos que, após o tropicalismo, começaram a ser assimilados por
    setores da MPB. De uma maneira geral, entretanto, a maior parte do espaço
    musical nas rádios, nos programas de televisão e nas lojas de discos era
    ocupado por estes dois grupos de cantores/compositores.(33)
    E, como veremos a seguir, ambos os grupos vão produzir os seus discos e
    canções num período de forte radicalização da ditadura militar, a partir da
    decretação do AI-5, em dezembro de 1968.
    **
    NOTAS :
    CAPÍTULO: INTRODUÇÃO
  1. “Finados com sol” – O Dia, 3 -11-1997.
  2. Os depoimentos ao autor citados neste livro não terão notas de fim de
    página. Conferir data e nome completo de cada depoente em Fontes e
    bibliografia.
  3. “Eu sou Waldik Soriano” – Manchete, 22-5-1971.
  4. Programa ”Show da Madrugada” – Rádio Globo, 24-8-1991.
  5. O título de cada canção aparecerá no corpo do texto ou nas notas finais.
    As indicações referentes a autor, intérprete, gravadora, título e data de
    lançamento do disco podem ser conferidas na discografia listada em ordem
    alfabética em Fontes e bibliografia. As canções foram organizadas em três
    grupos: repertório “cafona”/ repertório mpb-pop-rock / repertório
    internacional.
  6. Ver Edward P. Thompson. “Tradición, revuelta y consciência de clase”.
    Barcelona: Critica, 1979; Michelle Perrot. ”Os excluídos da história”. São
    Paulo: Paz e Terra, 1988.
  7. Marilena Chauí. ”Conformismo e resistência; aspectos da cultura popular
    no Brasi”l. 6ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 124.
  8. Fontes: respectivamente, Associação Brasileira de Produtores de Discos
    e IBINEE; “Discos em São Paulo”, Pesquisa 6, IDART, 1980. Apud.
    Renato Ortiz. ”A moderna tradição brasileira; cultura brasileira e
    indústria cultura”l. São Paulo: Brasiliense, 1988, pp. 127-128.
  9. Esta palavra alcançou popularização definitiva a partir de 1984, quando
    o cantor Eduardo Dusek lançou com grande sucesso o LP “Brega chique,
    chique brega” – Polydor P. 1984.
  10. Antônio Geraldo da Cunha. ”Dicionário etimológico Nova Fronteira
    da língua portuguesa”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 136.
  11. Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica. 2a ed.
    São Paulo: Art Ed. / Publifolha, 1998, p. 117.
  12. Dirceu Soares. ‘Ás feições brasileiras de um tema universal”. In.
    ”História da música popular brasileira (Adelino Moreira, Jair Amorim &
    Evaldo Gouveia)”. 3a ed. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
  13. Dissertação defendida naquela instituição em 4 de Outubro de 1999. A
    banca examinadora foi formada pela Profª. Drª Sônia Apparecida de
    Siqueira – minha orientadora – , e pelos professores doutores Nilson Alves
    de Morais e José Carlos Sebe Bom Meihy.
  14. A lista completa dos artistas entrevistados encontra-se na última parte
    deste livro (Fontes e bibliografia). As entrevistas passaram por um processo
    de edição, que visa dar maior clareza e normalização à linguagem,
    evitando-se os riscos de uma má recepção da mensagem. (Ver José Carlos
    S. Bom Meihy. Manual de história oral. São Paulo: Loyola, 1996).
  15. Edgar Morin. “Não se conhece a canção”. In. Linguagem da cultura de
    massa. Petrópolis: Vozes, 1973, p. 144.
  16. Texto do encarte que acompanha o fascículo 1 “Chico Buarque”.
    História da música popular brasileira. 3a ed. São Paulo: Abril Cultural,
    1982,
  17. Dados fornecidos pelo Museu da Imagem e do Som em Janeiro de
    2002.
  18. Jacques Le Goff. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 1996,
    p. 109.

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